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O partir o pão em Lucas 24 não é a ceia do Senhor. A ceia foi instituída pelo Senhor nos evangelhos, mas aquela ainda não era a ceia que praticamos. A que praticamos (e os discípulos em Atos praticavam sem ainda entenderem perfeitamente o que faziam) é a que foi revelada pelo Senhor a Paulo em 1 Coríntios 11 (não foram os outros que contaram a ele). Vamos à passagem de Lucas 24:
Luc 24:28-31 E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe. E eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão, o abençoou e partiu-o, e lho deu. Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes.
Em Lucas 24 vemos o Senhor tomando o lugar de anfitrião (a casa não era a dele) e tomando a iniciativa em tudo. Embora não seja uma reunião da igreja (que ainda não existia) e nem a ordenança da ceia do Senhor (nada é falado do vinho), a cena é um bom exemplo do que acontece quando a assembleia se reúne ao Seu nome. Mas ali claramente tratava-se de uma refeição normal, e não da ceia do Senhor revelada pelo Senhor a Paulo como uma ordenança dada à Igreja.
Em Atos 2:46 o “partir o pão” não era a ceia do Senhor, mas a refeição comum que os judeus faziam, mas o versículo em Atos 2:42 está falando da ceia do Senhor. Como distinguir se ambas passagens usam a expressão “partir o pão”? Simples, basta ver o contexto e o que está associado a cada uma das ocorrências. O verbo “apanhar”, por exemplo, pode ter diferentes significados dependendo de onde está inserido na frase. “Apanhei de meu colega na escola” significa que levei uma surra dele, mas “Apanhei meu colega na escola” significa que fui buscá-lo ali. Vamos às duas passagens de Atos 2:
Ats 2:41-42 De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas; E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.
Esta passagem está falando de uma atividade corporativa como assembleia ou igreja, ainda que eles não entendessem exatamente que estavam vivendo algo distinto de Israel e que suas reuniões nada mais tinham a ver com o judaísmo. A verdade da igreja só seria revelada mais tarde a Paulo, conforme a passagem de 1 Coríntios:
1 Co 11:23-26 Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha.
Não faria sentido dizer que “perseveravam… no partir do pão” se em Atos 2:41-42 a expressão indicasse meramente a alimentação diária. Interpretar assim seria como dizer que “perseveravam em tomar café da manhã, almoçar e jantar”, o que não teria qualquer importância e nem conexão com “doutrina dos apóstolos”, “comunhão” e “orações”.
Portanto é sempre bom entender que quando lemos Atos estamos vendo um período de transição e não a doutrina dos apóstolos especificamente falando. Lembre-se de que Atos é a continuação do evangelho de Lucas. Em Atos vemos os atos ou ações dos primeiros cristãos, mas é na doutrina dos apóstolos para a igreja, encontrada nas epístolas ou cartas, que encontramos o embasamento para aquilo que era praticado em Atos.
Por exemplo, confirmando a passagem acima de Atos 2:41-42 nas epístolas encontraremos o perseverar na doutrina (1 Co 14:26-40), na comunhão (pode ser o caso de Jd 1:12 ou 1 Co 11:21, em ambos os casos apontando distorções), no partir do pão (a ceia do Senhor, 1 Co 11:23-26) e orações (1 Co 14:14-17).
A passagem que se segue àquela obviamente fala dos costumes da vida diária, e neste caso sim o “partir o pão” refere-se à alimentação regular e diária. Aqui poderíamos parafrasear como “tomando café da manhã, almoçando e jantando em casa, comiam juntos…”.
Ats 2:46 E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,
Já em Atos 20:7-11 trata-se da reunião da assembleia para partir o pão, isto é, celebrar a ceia do Senhor.
Ats 20:7-11 E no primeiro dia da semana, ajuntando-se [congregando] os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite. E havia muitas luzes no cenáculo onde estavam juntos… E [Paulo] subindo, e partindo o pão, e comendo, ainda lhes falou largamente até à alvorada; e assim partiu.
Em Atos 27:35, no relato do naufrágio, o ato de Paulo partir o pão nada tem a ver com a ceia do Senhor, mas é uma expressão usada para a refeição. Ele está cercado de tripulantes e passageiros incrédulos, portanto tentar atribuir aquilo à ceia do Senhor seria um erro.
Por Mario Persona
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, ESTANDO CONGREGANDO DESDE 1981 SOMENTE EM NOME DO SENHOR JESUS.
DISPONÍVEL EM: http://www.respondi.com.br/2013/03/em-lucas-24-o-partir-o-pao-era-ceia-do.html
DO MESMO AUTOR:
Onde queres que a preparemos? Lc 22:7-20
Onde devemos celebrar a Ceia do Senhor? Esta pergunta, feita por muitos, traz à tona a tristeza causada pela ruína do testemunho do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Mas antes mesmo da existência da Igreja (por ocasião da última ceia a Igreja ainda não havia sido formada; isto aconteceu somente em Pentecostes – At 2), encontramos esta pergunta sendo feita em Lucas 22, do versículo 7 em diante. Ali encontramos o Senhor ordenando aos Seus discípulos: “Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos” (v.8). E eles fizeram a mesma pergunta: “Onde queres que a preparemos?” (v.9). Esta é a pergunta de uma alma submissa ao Senhor, que deseja fazer a vontade dEle acima de tudo. Sabemos que essa seria a última ceia do Senhor com Seus discípulos, antes de morrer numa cruz. E foi nessa ocasião que Ele pediu que fizessem isso em memória de Si; repetindo posteriormente o mesmo pedido a Paulo (1 Co 11:23), já no caráter de uma ordenança àqueles que faziam parte da Igreja.
Ao receberem a ordem do Senhor, os discípulos não fizeram o que achavam melhor, e nem se dirigiram ao lugar mais próximo de suas casas, ou aonde se sentissem bem. Tampouco procuraram qualquer lugar que lhes parecesse digno de tal evento, mas, com a simplicidade de uma criança, perguntaram ao Senhor: “Onde queres que a preparemos?” E a resposta do Senhor é muito instrutiva, se a aplicarmos espiritualmente a nós nestes últimos dias.
Primeiramente, no versículo 10 de Lucas 22, o Senhor ordena que entrassem “na cidade” (v.10). O lugar onde devemos lembrar Sua morte enquanto estamos aqui é neste mundo, em meio a toda a confusão criada pelo homem, mas, como veremos adiante, separados dela. Ali eles encontrariam “um homem levando um cântaro d’água” (v.10) e deveriam segui-lo. Não era comum encontrar um homem levando um cântaro d’água, pois esta era uma tarefa típica das mulheres, como encontramos em João 4 e em muitas passagens do Antigo Testamento. … O homem levava um cântaro d’água – esta é um símbolo da Palavra de Deus, conforme encontramos em Efésios 5:26.
O homem com o cântaro os levaria a um “grande cenáculo mobilado” (v.12). O cenáculo, que é o andar superior de uma casa, nos fala de um lugar que, embora neste mundo, encontra-se acima das coisas da Terra; um lugar elevado. O aposento era um “grande cenáculo” – havia espaço suficiente para todos os convidados – e o fato de estar mobilado demonstra que alguém já havia preparado acomodações suficientes para os que ali fossem. E eles, obedecendo às ordens do Senhor, encontram tudo exatamente como lhes foi falado e, “chegada a hora, pôs-Se à mesa, e com Ele os doze apóstolos” (v.14). E, ali, Ele lhes fala da Sua morte (v.15).
Tudo isso é muito instrutivo para nós. Em primeiro lugar, temos que buscar o Senhor quanto ao que devemos fazer e onde devemos fazê-lo. Ele nos mostrará com certeza. Então devemos seguir o homem com o cântaro d’água; uma figura de acompanharmos o Espírito Santo naquilo que Ele leva, ou seja, a Palavra de Deus. Não encontraremos na Palavra coisas do tipo, vá à esta ou àquela denominação, pois não encontramos, na doutrina que foi dada à Igreja, denominações diferentes para aqueles que fazem parte de um mesmo Corpo (Ef 4:4). A única distinção era feita quanto à localização geográfica dos crentes (por exemplo, “da igreja que está em Éfeso” Ap 2:1).
Também não encontramos coisas do tipo vá aonde desejar ou ao lugar onde se sentir melhor, como se os crentes não tivessem qualquer guia seguro e tivessem que seguir sua própria vontade ou sentimentos (veja Dt 12:8,13-14; Jz 21:25). Também não encontramos o conselho que normalmente é dado, vá à igreja mais próxima de sua casa, que neste tempo de fim tem lançado muitos nas garras de verdadeiros mercenários da fé (2 Pd 2). O que não encontramos na Palavra de Deus não devemos fazer. Encontramos em Mateus 18:20 a indicação de que onde estiverem dois ou três reunidos ao Nome do Senhor Jesus (e ao Seu Nome somente) Ele estará no meio, o que equivale dizer que Ele Se porá à mesa com os Seus que ali estiverem.
Portanto é pela Palavra de Deus somente, e não pelos costumes dos homens, ainda que sejam cristãos, que encontramos o lugar onde Deus quer que celebremos a Ceia. Tal lugar está acima das coisas deste mundo (assim como o cenáculo que vimos) e Deus preparou acomodações para todos os que desejarem se dirigir para ali (o cenáculo era grande e estava mobilado). Trata-se do lugar onde o Senhor colocou o Seu Nome, e mais nenhum outro; onde é Ele o centro de todas as atenções e Sua autoridade é reconhecida (veja 1 Co 5:4,12).
http://manjarcelestial.blogspot.com.br/2011/10/onde-queres-que-preparemos-lc-227-20.html