“A Voz da Rússia consegui falar com um voluntário que ajudou tratar os feridos no incêndio na boate “Kiss” na madrugada de 27 de janeiro de 2013. Marco Antonio Zanetti Filho é técnico de enfermagem formado na Universidade de Santa Catarina.
– Marco, você estava na boate no momento em que o incêndio começou?
– Não, eu estava em casa mas recebi chamado dos meus amigos e depois a gente correu para ver o que dá para ajudar. Fui como voluntário.
– O incêndio teve início às duas e meia da manha no domingo. A que horas você chegou na boate?
– Cheguei na hora de confusão, acho que foi quase quatro horas. Vi todo o mundo saindo, ligavam para os amigos para ver onde é que estavam.
– Como você soube do incêndio?
– O meu amigo tentou me ligar mas ele não conseguiu. Daí ele ligou para os meus pais, os meus pais atenderam e falaram como eu estava em casa, falei com ele, ele me avisou.
– Marco, você teve oportunidade de socorrer quantas pessoas, você lembra?
– Na hora em que eu cheguei lá eles já tinham fechado as ruas. E falaram que é preciso gente nos hospitais na UPA, então eu corri para o hospital Caridade, que fica mais perto de casa. Eram muitas pessoas. Daí no começo só chegou um. Daí não tinha a noção da gravidade, e começou a chegar muita gente, muita gente mesmo.
– Neste hospital Caridade você lembra quantas pessoas foram internadas?
– Olha, eu acho que 30 no mínimo.
– E destes 30 todos foram sobreviventes ou alguns foram ao óbito?
– Alguns foram ao óbito ali mesmo. Alguma gente que no caminho não resistiu não conseguiu também foi nisso.
– Nosso programa recebeu as informações de que o povo russo está muito solidário com essa tragédia e desde domingo tem comparecido a junto da embaixada do Brasil em Moscou, depositando flores, ascendendo velas e deixando registadas as suas mensagens no Livro de Condolências que a Embaixada Brasileira franqueou ao povo russo. Os moscovitas perguntam como estão aos sobreviventes. Você tem alguma informação sobre isso?
– Tem os que estão encarnados. Os mais graves estão sendo transferidos para Porto Alegre que tem o hospital do Rio Grande do Sul.
– Alguns foram levados para os hospitais especializados no tratamento de queimaduras, se há?
– E desses que são cento e poucas, 75 estão em estado grave.
– Estado que o próprio ministro de saúde já considere como critico. E muitos têm pneumonia química. Eu vou pedir você, Marco, para nos explicar o que é a pneumonia química?
– Pneumonia química seria uma intoxicação que vai pelo pulmão e acaba meio que queimando os alvéolos, eles não conseguem fazer o transporte de oxigênio e acaba com falta de oxigênio. Isso leva à falência do pulmão e deficiência respiratória.
– Marco você conseguiu conversar com algum dos sobreviventes?
– Não. Ainda não consegui falar com ninguém .
– Quem estava na boate na noite de sábado para domingo era em grande maioria estudantes de Universidade Federal de Santa Maria não é?
– É isso. Porque Santa Maria é uma cidade universitária, então as boates acabam se reunindo para vender convites para festas de formatura então todo o mundo que vai nessas boates são jovens estudantes daqui.
– E você tomou o conhecimento da acusações que os seguranças teriam impedido os jovens de sair da boate, Marco?
– Sim, eu vi na TV que foi isso no começo.
– E depois surgiu uma segunda versão que os seguranças teriam se convencido da gravidade da situação e liberaram a porta de saída.
– Mas dai eles liberaram…
– Já era tarde demais.
– Sim já era tarde demais.
– Você então não chegou a boate nem ficou muito tempo na rua e foi imediatamente para hospital Caridade. Então não chegou a socorrer ninguém na rua?
– Ali não, por que já estava fechado.
– E hoje você continua aparecendo no hospital? Continua atendendo a sobreviventes?
– Eu trabalho no outro lugar ali e por isso ainda não fui ao hospital para ver os pacientes.
– Você trabalha num hospital?
–Sim, junto com hospital de Caridade, é a parte de consultoria de diagnóstico onde fazem tomografias electromagnéticas, mas junto com hospital.
– Você se formou como técnico de enfermagem aqui?
– Eu me formei na Unifera.
– Você é desta cidade também, nasceu aí nesse município?
– Sim, sou de Santa Maria.
– Bem Marco nós queríamos agradecer você pela sua entrevista, queríamos cumprimentar você pela sua iniciativa em socorrer as vítimas dessa tragédia.
– Eu que agradeço vocês pela força.
– Agradecermos a até uma próxima oportunidade, Marco.
– Até.
– Tchau e muito obrigado”.
FONTE:http://portuguese.ruvr.ru/2013_01_30/testemunha-do-incendio-na-boate-kiss-os-segurancas-liberaram-a-porta-quando-ja-era-tarde-demais/