“Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores. Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.
Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos. Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto.” (Tiago 5:13-18).
Tenho seguido a prática de Tiago 5 e tenho-a visto praticada por outros, durante 40 anos, o que é uma grande bênção. De fato, não sei se posso me lembrar de um caso no qual Deus não tenha curado em resposta à unção com óleo e à oração da fé pelo doente e conforme estas instruções [de Tiago 5:13-18] (embora eu não creia que Ele seja obrigado a fazê-lo ou que Ele sempre cure em tais casos). Estou falando apenas da minha própria experiência neste assunto.
Não entendo por que tantos parecem ignorar esta passagem. Talvez porque os carismáticos tenham abusado tanto dela.
1. Miscelânea de pontos introdutórios.
a. A Bíblia, em parte nenhuma, condena os médicos e a Medicina, mas condena confiar no homem em vez de confiar em Deus. (2Cr 16:12).
b. Esta passagem [de Tiago 5:13-18] mostra que o dom apostólico da cura iria terminar. Aqui os anciãos da igreja são chamados, em vez de alguém com o dom da cura. Os anciãos não impõem as mãos no enfermo, nem repreendem a doença ou expulsam demônios, mas, simplesmente, ungem-no com óleo e oram por ele. O dom da cura esteve associado à era apostólica e Deus deu aos apóstolos dons e sinais, a fim de autenticar a sua vocação (2Cor 12:12). Ver Marcos 3:14-15; Atos 2:43; 4:33; 5:12, 15; 19:12. Os apóstolos colocaram o fundamento para a igreja (Efésios 2:20), e quando eles faleceram, os sinais cessaram. Se os milagres e sinais ainda estivessem em efeito durante a era da igreja, não teriam sido efetivos como dons e sinais característicos dos [13] apóstolos [mais 70 discípulos]. Mesmo nas igrejas primitivas, todos os cristãos não podiam realizar os milagres e sinais dos apóstolos. As únicas exceções eram alguns homens sobre quem os apóstolos impunham as mãos. Não houve uma experiência generalizada de operar milagres, nas igrejas primitivas. Se tivesse havido, Paulo não teria apontado a sua habilidade de operação de milagres como um sinal especial [exclusivo e identificatório dos 13 apóstolos mais 70 discípulos. Leia com toda atenção 2Co 12:12. Entendeu?]. Seu ministério teria sido apenas mais um entre dezenas de milhares de outros ministérios cristãos comuns e iguais, se todos pudessem operar tais coisas; mas nem todos podiam. Se todos pudessem ter operado milagres, como algo normal, os cristãos não teriam chamado Pedro para vir ressuscitar Dorcas dos mortos (Atos 9:36-42). O milagre de Pedro naquele dia foi o sinal de um apóstolo”.
c. Tiago começa dizendo que deveríamos orar pelos aflitos, cantar com os alegres e cantar salmos (Tiago 5:13). Vemos que do povo de Deus não era exigido que fingisse ser [ou tentasse ser, ou apenas desse a aparência de ser] alguma coisa que ele não fosse, ou tentasse enfeitar determinadas condições [fazendo-as dar aparências de sinais, poder, milagres]. Quando eu frequentava reuniões pentecostais, como um cristão jovem, sentia grande prazer em ser exuberante no louvor e em exibir algo que não estava sentindo, como línguas. Havia prazer em ser exuberante no louvor e em exibir vários “dons”, tais como línguas, mas Tiago não apoia esse tipo de coisas. Se estou aflito, não sou instruído a ser [ou aparentar estar] alegre; e se estou alegre, não sou instruído a estar [ou aparentar estar] aflito. Se estou aflito, preciso orar e buscar a face de Deus, para conseguir sabedoria e força. Se estou alegre, preciso cantar e glorificar ao Senhor. Isto não significa que os alegres não devam orar pelos aflitos ou que os aflitos não devam cantar, mas Tiago está mostrando o que deveria ser enfatizado em cada situação especial.
Tiago não está se referindo meramente à cura em um caso envolvendo pecado. Ele não diz, “Se alguém está pecado entre vós, que se chamem os anciãos”, Se alguém está pecando e necessita de cura, que se chamem os anciãos.” Ele diz simplesmente, “Se alguém entre vós está enfermo, que se chamem os anciãos”. A menção ao pecado vem depois. Então, a cura aos enfermos, em geral, independente da causa, é o primeiro item a ser tratado. Só mais tarde, após descrever a cura com óleo e a oração da fé, salvando o enfermo, é que ele diz “e se ele cometeu pecado que o perdoem”.” O caso do pecado é separado, embora possa ser relatado, porque a doença pode ser um caso de pecado não confessado. Mas o assunto principal desta passagem trata da cura da doença.
2. Instruções para orar pelo enfermo (Tiago 5:14-16)
a. Considerar a doença.
A palavra “enfermo” nos versos 14-15 não se refere a coisas mínimas, como um resfriado.
Duas palavras gregas diferentes são usadas neste verso. No verso 14 é astheneo, que significa “adoentado” ou “impotente” ou “sem força.” No verso 15, é kamno, que em algum lugar é traduzido como “muito cansado” e “desmaiado” (Hebreus 12:3). O verso 15 indica que Tiago está se referindo a um tipo de doença que leva alguém a cair de cama, tanto que ele diz “O Senhor o levantará” . Você não tem que ser levantado a não ser que esteja de cama ou tenha uma doença grave.
b. Considerem a chamada (“chame,” Tiago. 5:14). Neste caso, a pessoa enferma deve tomar a iniciativa. Tiago não apoia que os anciãos corram para ela, a fim de ungi-la com óleo e diversas outras coisas.
c. Considere o contexto (“chame os anciãos da igreja”, Tiago 5:14). Isto não é um ministério de cura nem uma campanha. Não é um sacramento executado por um sacerdote. A prática descrita por Tiago assume a membresia numa igreja.
Os que desprezam os anciãos e pastores, achando que não precisam ser membros de uma igreja [local] ficam fora desta prática.
d. Considere o procedimento (Tiago 5:14-16)
A pessoa enferma deve confessar suas faltas (Tiago 5:16). O pecado pode causar enfermidade. Ver João 5:14; 1 Coríntios 11:29-30.
Observe que somos instruídos a confessar nossas faltas, não nossos pecados. A palavra grega usada para pecado é “harmartia”, a qual não é usada aqui. Em vez disso, Tiago usa a palavra “paraptoma”, a qual se refere a um deslize, lapso, desvio ou erro. (Strong). Em qualquer outro lugar ela é traduzida como “queda” (Romanos 11:11), “ofensa” (Romanos 4:25), “ofensa” (Mt. 6:14). Tiago está nos instruindo a confessar aquelas faltas cometidas contra os irmãos. Ele não está nos pedindo para confessar os pecados mais graves que cometemos contra Deus. Estes são confessados diretamente a Deus. “A confissão mencionada é a de nossas faltas com referência ao outro, ou seja, quando alguém injuriou o outro e não é dito sobre confessar faltas aos que não temos injuriado” (Barnes). As versões modernas, como a NIV e a NASV lêem erroneamente “pecado”, em vez de “faltas”, em Tiago 5:16, por seguirem as versões do texto grego corrompido de Westcott-Hort as quais substituem a palavra paraptoma por hamartia.
A pública confissão das faltas pode trazer vitória espiritual. Quando eu era um cristão jovem, lutava para deixar de fumar e, muitas vezes, fui derrotado. Finalmente, durante uma reunião, numa quarta feira, tomei uma decisão e confessei este pecado à igreja, pedindo que orassem e, desde então, nunca mais fumei.
A ICAR apóia a prática da “confissão auricular” (confissão no ouvido do sacerdote). “Esta é uma passagem à qual os católicos romanos tentam se agarrar. A doutrina que eles tentam estabelecer, neste ponto, é a de que é nossa obrigação confessar a um padre, em certas ocasiões, todos os nossos pecados, dos quais temos sido culpados secreta e publicamente: todos os pensamentos, desejos, palavras e ações impróprios; e que o padre tem o poder de declarar na tal confissão que os pecados são perdoados. Porém, nunca houve qualquer texto menos pertinente para comprovar esta doutrina do que esta passagem, que confissão aqui anexada não deve ser feita por uma pessoa com saúde, a a fim de que ela obtenha salvação, mas por uma pessoa enferma, para que ela seja curada. Segundo, como a mútua confissão é aqui ordenada, o sacerdote ficaria tão obrigado a se confessar às pessoas como as pessoas ao sacerdote. Terceiro, nenhuma menção é feita, de modo algum, de um sacerdote, ou mesmo de um ministro religioso, a quem deva ser feita a confissão. Quarto, a confissão aqui referida é sobre as faltas com referência ao outro, ou seja a quem foi injuriado, onde alguém foi injuriado pelo outro; e nada é dito sobre confessar as faltas a quem não foi, de modo algum, injuriado. Quinto, não há qualquer menção aqui de absolvição, quer seja por um sacerdote ou qualquer outra pessoa. Sexto, se alguma coisa com o significado da absolvição é escriturística, ela pode ser pronunciada tanto por uma pessoa como por outra; por um leigo ou clérigo. Todo o significado é que Deus promete perdão aos que são realmente penitentes, e este fato deve ser bem declarado, tanto por uma pessoa como pela outra. Nenhum sacerdote e nenhum homem tem o poder de dizer ao outro que ele seja realmente penitente ou de perdoar pecados. Quem pode perdoar pecados senão Deus somente? (1 Reis 8:38-39). Quem pode colocar-se no lugar de presumir que perdoa os pecados que Suas criaturas têm cometido contra Ele? Sétimo, a prática da confissão auricular é maligna e somente maligna, e nada pode dar tanto poder ao sacerdócio do que a suposição de que os sacerdotes têm o poder de dar absolvição.
“Nada serve tanto para poluir a alma como conservar pensamentos impuros na mente, até chegar a hora de fazer a confissão ou estabelecê-los em palavras. Nada dá ao homem tanto poder sobre a mulher como fazê-la supor que isso é exigido pela religião e está ligado a um determinado ofício de que tudo que se passa na mente deveria ser revelado a ele. A exata coisa que um sedutor poderia desejar seria o poder de conhecer todos os pensamentos de sua pretensa vítima. E se esses pensamentos de sua alma pudessem ser conhecidos, a virtude não estaria segura em parte alguma. Provavelmente, sob o nome de religião, nada tem sido feito para corromper a moral de uma comunidade mais do que a prática da confissão auricular” (Barnes).
A pessoa enferma deve ser ungida com óleo em o Nome do Senhor (Tiago 5:14).
Ao invocar o nome do Senhor, Tiago está dizendo que este procedimento deve ser feito pela autoridade do Senhor. Ungir em o nome do Senhor é reconhecer que somente pelo Seu poder as pessoas são abençoadas. Não temos poder algum em nós mesmos, nem há poder algum nos rituais religiosos.
“O fato de que o enfermo deve ser ungido em o nome do Senhor mostra não ser uma questão de uso do óleo como remédio para os enfermos (Lucas 10:34). É uma questão, talvez, cerimonialmente, como símbolo do poder curador do Senhor. No VT a unção com óleo era um símbolo do Espírito Santo. O óleo era um símbolo do Espírito ou do princípio espiritual da vida e do Seu poder, pela virtude de sustentar e fortificar a energia virtual; e o óleo da unção, que era preparado conforme as instruções divinas, era, portanto, um símbolo do Espírito de Deus, como o princípio espiritual da vida que procede de Deus, e enche o ser natural da criatura com os poderes da vida divina”. (People’s Bible Encyclopedia).
Visto como Tiago não diz qual o tipo de óleo que deve ser usado, nem como deve ser feita a unção, fica a critério de cada igreja decidi-lo. Poderia ser azeite de oliva, óleo de bebê ou óleo vegetal. Os anciãos deveriam ungir a cabeça, a testa, as mãos e os pés. Se o exato tipo do óleo de unção fosse parte necessária ao procedimento, a Bíblia teria sido mais específica.
[Todos os anciãos da igreja local que puderem] devem orar pelos enfermos [que solicitem que vão ao seu leito] (Tiago. 5:14).
A oração é mencionada sete vezes em Tiago 5:13-18; Assim, a ênfase é sobre a oração em vez de sobre o óleo da unção.
O que é a oração da fé? Não é a fé em que o Senhor realmente cura, mas certamente, a fé em que Deus vai realizar a Sua perfeita vontade. Compare Hebreus 11:6. Deus exige que creiamos, sim, e creiamos que Ele é o galardoador dos que o buscam diligentemente. É nisso que devemos crer. A oração da fé é a fé na bondade de Deus, no sentido de fazer o correto e o melhor em Sua perfeita vontade, nessa especial situação. O primeiro princípio da oração é que ela seja submetida à vontade de Deus (1 John 5:14-15). Foi isso que Jesus ensinou (Mateus 6:9-10).
A fé obedece, mesmo quando não compreende tudo.
e. Considere a promessa
Esta não é uma promessa de cura em todos os casos. Conforme vimos, o primeiro princípio da oração é aceitar a vontade de Deus (Mateus. 6:9-10). Para interpretar apropriadamente a Bíblia devemos comparar Escritura com Escritura, e veremos que Deus nem sempre cura o enfermo.
Timóteo não foi curado, sobrenaturalmente, de suas constantes enfermidades (1 Timóteo 5:23).
Trófimo não foi curado, quando ficou doente em Mileto (2 Timóteo 4:20).
Paulo não foi curado da doença descrita em 2 Coríntios 12:7- 10. A palavra grega para “enfermidades” (2 Cor. 12:10) é traduzida em algum lugar como “doença” (João 11:4) e “enfermidade” (Atos 28:9; 1 Tim. 6:20). Três vezes Paulo pediu que Deus o livrasse desta aflição, mas a Bíblia diz que Ele recusou fazê-lo. A Paulo foi dito que esta enfermidade era algo que Deus desejava que ele tivesse, para o seu bem-estar espiritual. Ao saber disso, Paulo rendeu-se à vontade de Deus e, sabiamente, falou “Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.” (2 Coríntios 12:10). Deveríamos orar pela cura e nos livrar de outros tipos de provações, mas quando Deus não cura e não nos livra, devemos, pela Sua vontade, nos dobrar diante Dele e aceitar esta situação, como algo vindo da mão de Deus. Isto não é falta de fé, mas uma sábia obediência à soberana vontade do Deus Todo-Poderoso.
Além disso, Tiago não nos promete cura imediata. Ele também não diz quando nem como Deus o fará.
Observe que Tiago não diz que Deus vai “curar o enfermo”; ele diz Deus “salvará o enfermo” (Tiago 5:15). Há muito mais em salvar o enfermo do que em apenas curar o seu corpo físico. Isaías 63:9 se refere a tudo que Deus faz para nós. Também, existe a cura espiritual (Hebreus 12:13). Deus salvou Paulo na situação descrita na 2 Coríntios 12:7-10, dando-lhe sabedoria para aceitar a provação. Sabemos que Deus sempre cura o enfermo, mas a oração bíblica deve estar pedindo, mais do que exigindo. Se a “oração da fé” sempre curasse o enfermo, nenhum crente deveria morrer, no entanto sabemos que cada crente nos últimos 2.000 anos tem morrido. Além disso, Paulo via a morte como uma vantagem (Filipenses 1:23).
David Cloud
Traduzido por Mary Schultze – Maio, 2013