O clima e a agricultura na região da América Latina e do Caribe não serão mais os mesmos com os efeitos das mudanças climáticas: os prognósticos indicam que no fim do século 21 haverá uma grande variação no nível de precipitações na América do Sul, com mudanças heterogêneas – enquanto no Nordeste brasileiro estima-se que haverá uma redução de 22% das chuvas, em áreas do sul-oriente da América do Sul se espera um aumento de 25%.
A conclusão consta nos relatórios O Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação (SOFA, na sigla em inglês)” e “Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar e Nutricional da América Latina e Caribe”, publicados no dia 17 de outubro de 2016 pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Segundo a FAO, as alterações no padrão das chuvas terá importantes efeitos sobre a agricultura latino-americana e caribenha, e será cada vez mais difícil realizar colheitas, criar animais, gerir florestas e pescar nos mesmos locais e da mesma forma que anteriormente.
“Dado que a mudança climática altera os padrões das chuvas e a disponibilidade de água, a capacidade para enfrentar a escassez ou os excedentes de água será fundamental nos esforços para melhorar a produtividade de forma sustentável”, disse o relatório.
O relatório destacou o risco de perda de superfície das florestas da região, que se transformarão em savanas, destacando que a Amazônia enfrentará risco de incêndios frequentes. Na América Central, as mudanças climáticas colocam 40% das espécies de manguezais em ameaça de extinção.
Conversão de florestas
O documento da agência da ONU alertou também para a crescente conversão de florestas latino-americanas e caribenhas em terras para a agricultura ou pecuária, o que representa a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa na região.
A redução do desmatamento é a principal frente de combate às mudanças climáticas na América Latina, enquanto a pecuária e a agricultura são os setores que mais degradam as florestas da região, contribuindo para a emissão de gases do efeito estuda, segundo a organização.
Segundo o relatório, as três principais fontes de emissões de gases de efeito estufa da agricultura em 2014 na América Latina e no Caribe foram a fermentação entérica (58%) — o gás produzido nos sistemas digestivos dos ruminantes —, o estrume deixado nas pastagens (23%) e os fertilizantes sintéticos (6%).
Por esse motivo, a FAO faz um chamado global para que os governos implementem transformações rápidas nos sistemas alimentares e agrícolas para lidar com as mudanças climáticas. A agência da ONU também recomendou avançar em estabelecer compromissos nacionais de erradicação da fome e da pobreza.
De acordo com a FAO, essas transformações incluem práticas como o uso eficiente dos fertilizantes, a promoção de dietas que não estejam baseadas em produtos de origem animal, pois sua produção exerce uma forte pressão sobre os recursos naturais, a redução das perdas e desperdícios de alimentos e o apoio aos pequenos agricultores.
Efeitos na agricultura
O relatório apontou que as mudanças climáticas vão afetar os cultivos e a pecuária da região de diferentes maneiras. Também se verificará maiores secas dos solos e aumento da temperatura vai reduzir as produtividades nas regiões tropicais e subtropicais.
Além disso, se espera uma maior salinização e desertificação em áreas áridas do Chile e do Brasil, enquanto a agricultura de sequeiro em áreas semiáridas vai enfrentar perdas de colheitas.
A FAO também faz o prognóstico de que as mudanças climáticas vão provocar a diminuição da produção primária no Pacífico tropical e algumas espécies de peixes vão se trasladar em direção ao sul. A maior frequência das tempestades, furacões e ciclones vão prejudicar a aquicultura e a pesca do Caribe, e as mudanças na temperatura podem alterar a fisiologia das espécies de peixes de água doce e gerar o afundamento dos sistemas dos arrecifes de corais.
Ameaças à luta contra a fome
Um relatório complementar ao SOFA, denominado Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar e Nutricional da América Latina e Caribe, publicado no mesmo dia pelo Escritório Regional para América Latina e Caribe da FAO, apontou que as mudanças climáticas podem afetar as quatro dimensões da segurança alimentar e ameaçar as grandes conquistas que a região vem alcançando na luta contra a fome e a pobreza.
As mudanças climáticas podem afetar a estabilidade da segurança alimentar devido a uma maior incerteza em relação ao desempenho produtivo das atividades agrícolas, a renda das famílias e os preços dos alimentos.
No caso da disponibilidade, as mudanças climáticas podem afetar diretamente a produção alimentar, com a possível diminuição da quantidade física e variedade de alimentos disponíveis. Choques climáticos em grandes áreas produtoras poderiam ter severas implicações no comércio, chegando a afetar a oferta internacional de alimentos.
Além disso, as mudanças climáticas podem incidir na dimensão de acesso da segurança alimentar e nutricional, com variações bruscas da renda das famílias dependentes do setor agrícola ou no caso de uma redução da demanda de mão de obra assalariada para as tarefas agrícolas, repercutindo em sua capacidade de comprar alimentos.
As alterações no clima podem ainda incidir na dimensão de utilização, gerando mudanças importantes nas dietas da população, por uma oferta e ingestão alimentar pouco variada e afastada de padrões alimentares saudáveis, o que levaria a consequências negativas na nutrição.
FONTE: ONU Brasil
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