Parte do livro de autoria de Gleuso Heringer.
O processo de casamento, segundo a tradição judaica, constava de várias etapas (Gênesis 24). Este iniciava com o pai tomando a iniciativa de arranjar uma noiva para o filho. Isto poderia ser delegado a um representante e o casamento só era feito sob o consentimento da moça (Gn 24:5). Esta primeira etapa chamava-se shidduch.
Concluído o shidduch passava-se para o ketubah (“escrito”, ou “recibo”), que era o acordo pré-nupcial ou contrato do casamento. Este documento hebraico explicitava as obrigações do marido para com a mulher durante o casamento, as condições de herança após sua morte, e as obrigações em matéria de apoio aos filhos do casamento; enquanto que a noiva estipulava o seu dote.
Após o ketubah, este comprometimento tinha que se consumar publicamente. Isto ocorria em duas etapas distintas: kiddushin (parecido com o noivado ocidental) e, após um ano, o nisuin (conclusão do casamento).
Iniciava-se a cerimônia pública do kiddushin, com o casal aparecendo sob a huppah ou chuppah (pálio nupcial – toldo portátil, sustentada por varas, que simbolizava a futura casa -), onde os comprometidos expressavam suas intenções de se tornarem esposos (noivos). Sob a huppah, era realizado o eyrusin (desposar) do casal. O entendimento judaico de eyrusin é mais forte do que nosso moderno noivado, pois já era um ato definitivo; a mulher já era legalmente considerada como esposa (Dt 20:7; Dt 22:23; Joel 1:8). A partir daí, o casal precisaria de um divórcio a fim de anular este contrato e só era disponível ao esposo.
Enquanto eyrusin significa “desposar”, a palavra kiddushin significa “santificação” ou “separado à parte”, refletindo a santidade do casamento. Após esta cerimônia, o casal não estava liberado para as relações sexuais e deveria viver em lugares separados. Num período de um ano, até ocorrer o nisuin, a noiva e o noivo tinham suas responsabilidades. O noivo tinha como alvo a preparação do novo lugar de moradia para sua noiva e para os futuros filhos. Enquanto o noivo preparava a casa, a noiva teria como alvo sua preparação pessoal, enquanto o dia do casamento (nisuin) se aproximava. Um vestuário lindo de casamento devia ser preparado como um símbolo de uma alegre ocasião por vir. Para ambos, este ano de preparação deveria ser de introspecção e contemplação pessoal para esta tão santa aliança – a do casamento.
“Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada, com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mateus 1:18). José e Maria já tinham passado pelo kiddushin, onde o eyrusin (desposar) aconteceu, e estavam aguardando a cerimônia do nisuin.
Após a preparação dos noivos, no longo ano após o kiddushin, havia um passo culminante no processo da cerimônia do casamento judaico, conhecido como nisuin. Este termo é baseado no verbo hebreu “nasa”, que literalmente significa “carregar” ou “elevar”. No fim do período após o eyrusin, a noiva ficava na expectativa do noivo vir carregá-la para sua nova casa. Era o tempo de espera da chegada do noivo para o início da cerimônia de conclusão do casamento. Entretanto, a hora exata da cerimônia não era certa, pois era o pai do noivo que dava a aprovação final para o nisuin começar (o Pai dará a ordem de início das Bodas do Cordeiro).
A noiva e sua comitiva estariam, então, ansiosamente olhando e esperando pelo momento exato. Ao final da tarde, a comitiva da noiva deveria manter suas lâmpadas de óleo acesas aguardando o início da cerimônia (veja a parábola das dez virgens em Mateus 25). Liberado o início do nisuin, o noivo e uma comitiva iam em direção à casa da noiva. Um membro desta comitiva ia à frente e dava o sinal para a noiva, do início da cerimônia, ao gritar: “Veja, vem o noivo!”. Isto seria seguido pelo som do shofar (chifre de carneiro) e o noivo lideraria a procissão do casamento pelas ruas da vila até a casa da noiva. Os acompanhantes do noivo deveriam então pegar e carregar a noiva de volta até a casa do noivo, onde a huppah foi montada novamente.
O casal iria uma vez mais, sob a huppah, confirmar os votos e promessas anteriores, finalizando o casamento.
O que foi prometido na cerimônia do kiddushin agora foi consumado na cerimônia do nisuin. Após isto, o casal estava livre para consumar o casamento deles, tendo as relações sexuais e vivendo juntos como marido e mulher (Gn 24:66-67). Esta cerimônia alegre culminava em um jantar de casamento, que era mais do que simplesmente sentar e jantar com todos os convidados, pois incluía sete dias de comida, dança e celebração (Juízes 14:10-12).
2 comentários
Augusto
10 de dezembro de 2014 at 10:15Muito boa matéria.
Josemar f.
18 de novembro de 2017 at 10:30Gostei muito deste ensino , Único de Deus vos abençoe intensamente, glória ao Eterno !