Como assinante da Revista Adventista e como unitarista que sou não poderia deixar de comentar a resposta do ilustríssimo doutor em teologia e especialista no Novo Testamento, Sr. WILSON PAROSHI, na seção BOA PERGUNTA, REVISTA ADVENTISTA DE FEVEREIRO 2015.
Não tenho capacidade para questionar a habilidade literária desse grande estudioso da Palavra de Deus. Infelizmente, quanto ao ensino teológico ali exposto, me parece deixar muito a desejar, principalmente sob o aspecto da imparcialidade na argumentação.
Verifica-se de forma gritante a intenção de a todo custo fazer com que a Bíblia ou quaisquer outros escritos deem embasamento a formula trinitária de Mateus 28:19 e quando não se consegue plenamente pela Bíblia, utiliza-se do expediente de elevar-se a credibilidade de escritos apócrifos e rejeita-se de forma descarada a inspiração das Escrituras Sagradas.
Avalie as expressões do articulista na primeira parte do inicio de suas considerações: “Em relação à fórmula batismal trinitariana de Mateus 28:19, a situação é a seguinte: (1) A fórmula está presente em todos os manuscritos gregos que contêm Mateus 28:19, pois nem todos os manuscritos sobreviveram de forma completa. Na verdade, alguns chegaram até nós em estado bastante fragmentário, mas todos os que contêm o versículo em questão registram a fórmula trinitariana, sem exceção, e isso acontece com vários manuscritos cujo texto remonta ao 2º século. (2) A fórmula também está presente em todas as antigas versões, cujo texto também data do 2º século.
A argumentação do doutor em afirmar: “pois nem todos os manuscritos sobreviveram de forma completa.” me parece induzir o leitor a ideia de que somente as cópias (manuscritos) do novo testamento que contem a formula trinitária é que são completos, consequentemente mais confiáveis, entretanto isto pode também ser um forte argumento para comprovar o suposto acréscimo efetuado na Palavra, alias os, também, eminentes doutores em teologia da Igreja Católica Apostólica Romana dão a entender que provavelmente foi isto o que ocorreu (A Bíblia de Jerusalém – Edições Paulinas – 1991, pg. 1896, em nota de rodapé a Mt. 28.19).
Veja o que é dito na última parte do primeiro paragrafo de sua resposta: (3) Toda a literatura patrística anterior ao 4º século que cita Mateus 28:19 inclui a fórmula trinitariana. Exemplos: a Didaquê (c. 130-150), uma espécie de manual da igreja síria; Justino Mártir (c. 150); Clemente de Alexandria (150-215); e Cipriano (3º século). Levando-se em conta o registro textual, portanto, é praticamente impossível afirmar que a fórmula trinitariana de Mateus 28:19 não seja original.”
Perceba que aqui o articulista apela para a literatura extra bíblica para embasar sua argumentação em defesa da formula trinitária, e na minha ignorância quanto ao termo “patrística” vejam que reposta obtivemos: Patrística–Wikipédia, a enciclopédia livre pt.wikipedia.org/wiki/Patrística Patrística é o nome dado à filosofia cristã dos primeiros sete séculos, elaborada pelos Padres ou Pais da Igreja.
Gostaríamos de informar ao ilustre articulista que até mesmo a fonte extra bíblica por ele apresentada NÃO ERA TOTALMENTE TRINITÁRIA EM SUA ORIGEM, mas levou quatro séculos para assumir este dogma, senão vejamos: “A igreja estudou este mistério com grande solicitude e, depois de quatro séculos de investigação, decidiu expressar a doutrina deste modo: Na unidade da divindade há três pessoas – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – realmente distintas uma das outra. Assim, nas palavras do Credo de Atanásio: “O Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus, e no entanto não são três deuses, mas um só Deus” [249 – 256] CATECISMO DO CATÓLICO DE HOJE-Editora Santuário- Aparecida-São Paulo, página 12″
CONTRA FATOS NÃO HÁ ARGUMENTO
“E quanto ao batismo cristão primitivo, era ele feito em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo? De acordo com o livro de Atos, a resposta é não, pois todos os batismos ali mencionados são em nome de Jesus apenas (Atos 2:38; 8:16; 10:48; 19:5; 22:16; cf. 1 Coríntios 6:11). Como entender isso? Não é fácil, como não é fácil entender que, mesmo após a ressurreição de Jesus, os apóstolos ainda achavam que ele tivesse vindo para restaurar a independência política de Israel (Atos 1:6, 7), ou que eles, de alguma forma, ainda continuavam envolvidos nas atividades cerimoniais do templo (Atos 2:46; 3:1; 21:23, 24), ou que o próprio Paulo, ao final de sua terceira viagem missionária, ainda tivesse ido ao templo oferecer sacrifício (Atos 21:26).”
Não tendo como fugir a realidade teve que admitir que não há nas Escrituras nenhum batismo realizado em nome de uma “trindade” ai apelou para sua dificuldade de entender certos assuntos das escrituras, bem que poderíamos parafrasear o Mestre Nazareno e dizer: “Tu que és mestre na IASD e não entendes estas coisas”
O LIVRO DE ATOS DOS APÓSTOLOS, não serve como manual para a igreja?
“Seja como for, isso significa que não devemos olhar para o livro de Atos como se fosse um manual de igreja, muito menos como um manual evangelístico, como muitos o fazem. O livro de Atos apenas descreve como foram os primeiros 30 anos da igreja apostólica, seus erros e acertos, e como Deus atuou por meio deles para a consolidação e expansão da igreja. O período histórico abrangido por Atos foi de transição, em que muitos temas e práticas ainda careciam de desenvolvimento ou de uma compreensão mais clara. Foi assim com a questão da volta de Jesus, a pregação aos gentios e a própria organização da igreja.”
Que me perdoe o tão eminente doutor em teologia, mas esta é a parte de sua resposta que mais me parece deprimente, isto é, desprezar o valor teológico, missionário e inspirador de um livro das Sagradas Escrituras para substituí-lo por escritos apócrifos: Exemplos: a Didaquê (c. 130-150), uma espécie de manual da igreja síria.
O QUE APRENDI NA IASD
Não aconselho ninguém a afirmar que a formula trinitária de Mateus 28:19 é apócrifo ou um enxerto na Palavra de Deus, até porque não possuo provas materiais e indiscutíveis para afirmar tal coisa, mas uma coisa eu aprendi na Igreja Adventista do Sétimo Dia, é que não se apoia uma doutrina bíblica por um único versículo quando houver vários outros que indiquem o contrário.
Fraternalmente,
Heráclito Fernandes da Mota