OS MISTÉRIOS DA LEI DE DEUS. II CORÍNTIOS 3 FALA DA ANULAÇÃO DOS DEZ MANDAMENTOS?

Os Ministérios da Lei de Deus

“E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito!” (II Coríntios 3:7-8 RA).

Há um esforço por parte dos antinomistas(a) em tentar caracterizar a lei de Deus como sendo o “ministério da morte” citado em II Coríntios 3:7. Mas este inútil intuito é dissolvido pela própria abordagem de Paulo que discorre sobre dois ministérios e não sobre a lei. A palavra “lei” sequer é mencionada, e isso é fundamental para a análise desta questão. Muitos não conseguem diferenciar os termos “lei”, “ministério” e “aliança” entre si, e os tratam como sinônimos.

 

Lei é o mecanismo usado para expressar determinados princípios e padrões de conduta, e exigir que os mesmos sejam seguidos. Na Bíblia, uma lei é constituída por mandamentos ou preceitos, como por exemplo, a lei de Deus que é formada por Dez Mandamentos. Ministério refere-se aos meios administrativos pelos quais algo é ensinado, aplicado e preservado. Aliança consiste em aliar-se, geralmente em comum acordo, após aprovação de uma finalidade ou ação específica.

 

Assim, observa-se que existe uma grande diferença entre “lei”, “ministério” e “aliança”. Não há valor algum na existência de uma lei se ela não for transmitida, praticada e zelada; por isso a necessidade de um ministério, de uma gestão para coordená-la. E por meio da aliança realizada entre Deus e Abraão, o povo de Israel foi convocado para ministrar, também, a lei (Gênesis 18:19; Gênesis 26:4-5; Êxodo capítulos 19 e 20). E é justamente sobre as características e diferenças entre o velho e novo ministérios da lei de Deus que Paulo centraliza o seu discurso em II Coríntios capítulo 3.

 

“Ministério da morte”

 

O “ministério da morte”, também chamado de “ministério da condenação” (II Coríntios 3:9), refere-se ao “velho ministério” que coordenou a “antiga aliança” e, também, a lei de Deus. Esta aliança foi revogada, principalmente, pela negligência dos israelitas em honrá-la.1

 

Paulo ao comparar a antiga e nova alianças, demonstrou que esta última é dirigida por um “novo ministério” chamado de “ministério da justiça” ou “ministério do Espírito”. E este “novo ministério” tornou-se a glória resplandecente, em comparação com a glória do “velho ministério” (ministério da condenação) que se tornara empalidecida e finalmente desaparecera: “Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça. Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente glória.” (II Coríntios 3:9-10 RA cf. Hebreus 3:1-3).

 

Muitos judeus, antes de aceitarem a Cristo como salvador acreditavam que a glória manifestada no Sinai e, o “velho ministério” da “antiga aliança” exercido pelos levitas, eram a última palavra em salvação. Mas posteriormente entenderam que a glória manifestada por Cristo e, o “novo ministério” estabelecido com a “nova aliança”, superavam e substituíam tanto a “antiga aliança” quanto o “velho ministério” que a gerenciava (Hebreus capítulo 8 cf. II Coríntios 3:14-16).

 

Por simples figura de linguagem o “velho ministério” da “antiga aliança” é adjetivado de “ministério da morte”, e a própria Bíblia exemplifica esta figura de linguagem utilizada por Paulo: certa vez, os filhos dos profetas reuniram-se em torno da “panela grande” que continha colocíntidas (ervas tóxicas), então clamaram aos que delas alimentavam-se: “Homem de Deus, há morte na panela.” (II Reis 4:38-40 NVI). Em linguagem exata (literal), disseram que havia algo no interior da panela que iria causar a morte, mas ao fazerem o alerta trocaram a causa pelo efeito. Outro exemplo encontra-se em Isaías 28:18 (RA): “A vossa aliança com a morte será anulada (…)”; obviamente que ninguém faz aliança com a morte, isso no mínimo seria bizarro.

 

“Gravado com letras em pedras”

Gravado com letras em pedras é uma clara referência às duas tábuas de pedra onde foram escritos os Dez Mandamentos.2 O “velho ministério” da “antiga aliança” tinha sua legitimidade(b) administrativa fundamentada na lei de Deus; ou seja, sem esta lei para: estabelecer os princípios morais e éticos; revelar o pecado; e servir de base para os preceitos encontrados na lei de Moisés, todo o ministério (todo o gerenciamento) da “antiga aliança” perderia autoridade e propósito. Por isso a ênfase: “ministério da morte, gravado com letras em pedras”. A legitimidade e os objetivos do “velho ministério” (ministério da morte) dependiam diretamente dos Dez Mandamentos contidos nas tábuas de pedra.

 

Paulo, no verso de II Coríntios 3:7 não diz que a lei de Deus (Dez Mandamentos) é o “ministério da morte”. E não há a menor possibilidade desta classificação, pois ele mesmo afirma que esta lei: deve ser praticada (Romanos 2:13 cf. I Coríntios 7:19); está alicerçada no princípio do amor (Romanos 13:8-10); é ensinada pelo Espírito Santo (Romanos 8:5-8; Hebreus 10:15-17); é santa, justa e boa (Romanos 7:12 cf. Romanos 7:15-16); que a fé e a graça não podem anulá-la (Romanos 3:31; Romanos 6:15); e, agradava-se em obedecê-la (Romanos 7:22).

 

No verso de II Coríntios 3:3, Paulo enfatiza ainda que, na “nova aliança”, Deus escreve os Dez Mandamentos “não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações.”3 E o próprio Cristo citou a obediência a estes mandamentos como sendo necessária para se obter a vida eterna(c) (Mateus 19:17-19 cf. Mateus 5:19-20). Então, como poderia algo que é ensinado pelo Espírito Santo e que conduz a vida eterna, ser chamado de “ministério da morte”?

 

Os Dez Mandamentos que formam a lei de Deus, quando transgredidos, denunciam o pecado e exigem justiça (I João 3:4; Salmos 119:172); contudo, eles não orientam quanto ao julgamento e a devida punição a serem aplicados, as normas do “velho ministério” eram as responsáveis por isso, e elas estão descritas na lei de Moisés(d), não nas tábuas de pedra. Não há base bíblica que sustente a insinuação antinomista de que a lei de Deus (Decálogo) seja o “ministério da morte”. Ademais, existe ainda dois problemas constrangedores que acompanham esta ilusória teoria: 1). Que motivo levaria Deus a conceder ao povo de Israel, reunido solenemente no monte Sinai, uma lei que representa morte? 2). Que Deus é este que trata de forma discriminada o Seu povo, reservando uma lei de amor e justiça na “nova aliança”, enquanto na “antiga aliança” Ele entrega uma lei que reflete aflição e morte?

 

A glória no rosto de Moisés

 

“Ao descer do monte Sinai com as duas tábuas da aliança nas mãos, Moisés não sabia que o seu rosto resplandecia por ter conversado com o Senhor.” (Êxodo 34:29 NVI). O próprio Moisés não percebeu a glória que irradiava de sua face, e não entendeu o porque dos israelitas fugirem dele quando se aproximava. Chamou-os para junto de si, mas eles não ousavam olhar para aquela face glorificada. Quando Moisés entendeu que o povo não podia contemplar o seu rosto, o cobriu com um véu (Êxodo 34:30-35).

 

A glória no rosto de Moisés abalava os filhos de Israel devido a violação deles contra a lei de Deus. Isto é uma ilustração dos sentimentos dos que infringem a lei divina, desejam remover de sua presença “a luz penetrante” que lhes provoca terror por causa de suas transgressões; mas, para aqueles que a obedecem, ela revela-se santa, justa, boa e agradável (Romanos 7:12 e 22 cf. Salmos 1:1-2). Apenas os que têm íntegra consideração para com a lei de Deus podem estimar devidamente a importância e o valor da expiação de Cristo tornada necessária por causa dos pecados cometidos contra ela (I João 3:4; Isaías 53:5; I Coríntios 15:3-4).

 

Ao longo de seu discurso, Paulo fez o contraste entre a “glória que permanece” e a “glória que se desvanece”, entre o “mais glorioso” e o “menos glorioso”. Em todos os casos a glória provém de Deus, mas na “nova aliança” há uma plena revelação de Sua glória na pessoa de Cristo, que permanece para sempre (João 1:14; Apocalipse 5:13). Na “antiga aliança”, a glória de Cristo apresentava-se refletida nos símbolos do cerimonialismo mosaico, o Redentor estava representado pelos emblemas e liturgias, as quais cederam lugar com a Sua chegada, a grande Realidade (Hebreus 9:9-12; Daniel 9:27 cf. Mateus 27:51-53).

 

Aqueles que leem superficialmente o verso de II Coríntios 3:7 concluem desastrosamente que os Dez Mandamentos eram que desvaneciam (desapareciam), mas o que nitidamente se diz neste verso é que a glória refletida no rosto de Moisés era que perecia(e). A glória não estava nas tábuas de pedra. O reflexo da glória no rosto de Moisés se desvaneceu (sumiu), mas os mandamentos gravados em pedras permanecem em vigência. De forma análoga, o “velho ministério” era que desaparecia, não o Decálogo.4

 

Enquanto o rosto de Moisés refletia a glória de Deus, os serviços do santuário terrestre refletiam a presença de Cristo. O propósito de Deus era que o pecador nos dias da “antiga aliança” entendesse a atuação salvadora de Cristo e sentisse a Sua glória refletida no sistema litúrgico do tabernáculo. Porém, com a chegada de Cristo, o pecador tivera o privilégio de contemplar a glória da Realidade (João 1:29; Hebreus 9:22-28), tornando a glória menor refletida pelos símbolos do santuário desnecessária (cf. II Coríntios 3:10).

(A glória temporária no rosto de Moisés foi o resultado de sua comunhão com Deus no monte Sinai. Demonstrava aos que a viam, que ele, tinha estado na presença divina; era um depoimento silencioso de sua missão como representante de Deus e da obrigação do povo em ajustar-se a Seus preceitos. Essa glória confirmava a origem divina dos Dez Mandamentos e sua vigência obrigatória a todos os homens (I Coríntios 7:19 cf. Eclesiastes 12:13). Acesse: A lei do Tribunal Celestial.)

Considerações Finais

O fracasso dos israelitas em ver a Cristo nos símbolos do sistema cerimonial caracteriza a história hebreia desde o Sinai até a Sua vinda. E esta cegueira os conduziu a recusar e solicitar que fosse crucificado.5 Desde modo, a expressão “ministério da morte” distingui adequadamente o período do “velho ministério”, apesar de muitas exceções notáveis. O povo de Israel exerceu o “velho ministério” baseado somente na letra, sem a fé no Messias (Romanos 9:30-33 cf. Isaías 28:16), e isso os afastou do Espírito de Deus, resultando em morte aos transgressores da lei. O “novo ministério” veio para redirecionar a fé em Jesus e reaver o Espírito que vivifica. Por isso Paulo chama o “novo ministério” de “ministério da justiça” (II Coríntios 3:9 cf. Romanos 2:13) e “ministério do Espírito” (II Coríntios 3:8 cf. Romanos 7:14).

 

Embora a nação israelita tenha esquecido os reais motivos do ministério entregue à ela, sendo os principais: ter a Deus como o centro de suas vidas; reconhecer o Messias (Jesus Cristo) como único meio de salvação; e conduzir outras nações aos mesmos propósitos,6 Deus manteve estes objetivos na “nova aliança”, porém sob a tutela de um novo ministério (ministério da justiça ou ministério do Espírito).

 

 

Na época em que Paulo escreveu as cartas aos coríntios (52-54 d.C.), os judeus insistiam em praticar o ritual de sacrifícios abolido com a crucifixão de Jesus. Somente com a destruição do templo de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C., foi que cessou definitivamente para os judeus o que fora transitório. Paulo se refere às duas tábuas de pedra porque elas eram o fundamento legislativo que proporcionava autoridade administrativa e objetivo ao “velho ministério”. Sem os Dez Mandamentos contidos nessas tábuas, o “velho ministério” não tinha motivos para existir; e o mesmo ocorre com o “novo ministério” estabelecido na “nova aliança” (Hebreus 8:8-13; Hebreus 10:15-17).

 

O foco principal de II Coríntios capítulo 3 é explicar as diferenças(f) entre velho e novo ministérios (respectivamente pertencentes a antiga e nova alianças) e refutar os judaizantes(g) que rondavam a igreja de Corinto procurando impor as liturgias cerimoniais da lei de Moisés, assim como ocorreu nas igrejas de Antioquia, Galácia e Colossos.7 Eles consideravam que os rituais de sacrifícios da antiga aliança eram essenciais para a salvação(h) e, evidentemente, Paulo caracterizou o “velho ministério” que administrava esses rituais de “ministério da morte”. Era inerte. Judeus e gentios encontram vida em Cristo, pois só nEle há salvação.

Fonte: https://sites.google.com/site/iasdonline/home/reparador/2corintios3

 

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